15 outubro 2008

ROSAS BRANCAS

Num plenilúnio obscuro, sai das sombras um rosto toldado e belo. Longos cabelos negros como a noite sem estrelas, lábios carnudos desejados por muitos, olhos azuis que choravam negro cintilavam na noite enigmática de sons cativantes. Brisas quentes brincavam entre as cortinas púrpuras da grande mansão, criando a ilusão de vestidos dançantes. A luz trêmula das velas criavam formas nas paredes de seda. Formas assombradas que pareciam conversar entre si… conspirar…

Éden olhava extasiada a lua cheia dourada, enquanto lágrimas negras escorriam-lhe pela sua pele de porcelana. Ignorava as lágrimas, desconhecendo a razão do seu lamento. Na sua mente deambulava, uma jovem de cabelos loiros longos e ondulados, olhos vermelhos como uma pura gota de sangue, corpo definido capaz de a carregar por entre as épocas de dor. Os seus lábios gotejavam o sangue de épocas passadas… o precioso pulso da vida… Traçava cada linha do seu rosto com o mais perfeito pormenor, no entanto, sem o nunca ter visto… nunca a ter sentido nos seus braços.

O fino véu de Éden deixava o glacial deambular pelo seu corpo belo e esbelto. Fechou os renques e deitou-se no seu dossel adornado dos mais caros tecidos. Caída de braços abertos como esperasse pela sua sepultura, contemplava o quarto obscuro vendo-se envolvida pelas trevas que lá povoam. Amor pela mulher ignota cravava-se no seu coração sedento de paixão sem fim. Privada desse amor, apenas jazia na sua cama, imaginando esse cônjuge sem nome.

Noites passadas na companhia do silêncio cortante tornavam Éden mais carente. As horas pareciam anos sem fim. A comida era como cinza na sua boca. Apaixonara-se por um imaginário. Sonhava com ela, noite atrás de noite. As suas pinturas revelavam-no a segurar uma rosa negra onde uma gota de sangue repousava. As luzes das velas dançavam em seu redor sempre que se sentava no mármore frio da sua varanda enfeitada de rosas. Segurava numa e suspirava. Fantasiava com um lindo vestido e sedutor toque do seu amor ideal. Nas vezes em que ela assombrava o seu espírito, Éden entoava tristes melodias e chorava as lágrimas negras, a sua única companhia.
Noite em que o vento gelava a cada toque, uma sombras movia-se pela luz dourada da Lua. A pele branca e fria era iluminada fantasmagoricamente, enquanto dois olhos fixavam o ebúrneo belo.

Saída duma gala em que mil e uma cor brilhavam, vestidos coloridos bailavam, Éden agarrava a orla do seu negro vestido de veludo, adornado de violeta. Os seus cabelos presos num carrapito adereçados com lindas rosas e contas, deixavam cair fios negros. A pintura negra deitava no seu olhar uma beleza lúgubre que era impossível negar. O seu quarto estava como todas as outras vezes. Vazio. Atemorizado. Silencioso. Maravilhosas reminiscências vinham da varanda. Éden dirigiu-se para esse refúgio onde poderia voltar a escapar da realidade.

A luz da Lua brilhava nos seus olhos. Olhou para a floresta obscura que se erguia perante si, escondendo segredos moribundos, prazeres carnais e fadas nefastas. Aromas pestíferos erguiam-se do oprimido pântano de águas mortais. O coaxar dos sapos ouvia-se como uma suave melodia que sulcava o ar. A água ao pé da mansão brilhava como a prata proibida prendendo qualquer um ao seu encanto funesto. Nela, onde a lua cheia se enxergava, uma sombra movia-se lentamente.

A alma de Éden agitara-se como se mil lanças a tivessem para trespassar. Um clarão de luz iluminou a face da desconhecida. No seu coração, sentiu a dor dos dias passados… O sua interna amada encontrava-se ali abaixo dos seus pés. As gotas de sangue dos lábios brilhavam com a faísca do plenilúnio… belos olhos como agulhas intrigavam os seus admiradores… "Meu amor…" murmurou Éden. Num breve momento ela olhou para os belos olhos da sua apaixonada. Lágrimas começaram a descer dos olhos de Éden, desenhando o preto na pele.
"Éden…" As palavras deixaram Éden louca de amor, um amor efêmero. Este deixou na margem das águas cintilantes uma rosa negra, e envolvido pelas trevas mortais, desapareceu sem deixar rasto.

[Vanessa Prates]
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